Myeik, O arquipélago enigmático.
Nem sempre é fácil desejar destinos menos turísticos e mainstream. Nem sempre corre como desejamos. Queremos ultrapassar os obstáculos, chegar a sítios magníficos mas, por vezes não é possível devido a diversas barreiras que não prevemos. Neste caso sabíamos que poderia ser difícil chegar até lá. Lemos em todos os guias e na internet que estrangeiros não podiam fazer a estrada de Dawei a Myeik. Só podiam passar de avião ou barco. Lemos também que ao longo deste ano algumas restrições estavam a ser levantadas. Por isso decidimos arriscar.
A primeira fase foi fácil. Conseguimos apanhar um autocarro até Myeik. Levou cerca de 10 horas e entendemos porque é que turistas não podiam passar: a estrada está agora a ser construída.
Ao chegar a Myeik apanhámos mototáxi. O preço até à guesthouse que queríamos foi 1000 kyats por mota. Ao passar pela cidade de mota fiquei com a sensação de que gostava realmente de ali estar. Não consigo dizer o que faz este sítio diferente, talvez as casinhas baixas e cores em tom de verde e azul ou a sensação de vila piscatória, mas é realmente um sítio onde me senti bem.
Vimos a guesthouse neste site no dia 17/11/2015 e encontrámos algo a um valor dentro do que procurávamos. Hoje (8/12/2015) já se encontra rectificado. Na altura reclamámos um pouco. Talvez a senhora do hotel tenha contactado o site porque mesmo a descrição mudou. Dizia explicitamente que tinham descoberto finalmente hotéis em Myeik acessíveis a backpackers. Passo a explicar. Tínhamos ouvido dizer que não havia nada em Myeik abaixo de $30 e encontrámos esta opção online que alegrou o nosso dia. Chegadas à Dream Flower Guesthouse (Pya Aye Myit), num inglês muito limitado percebemos que não podiam receber estrangeiros…”no foreigners”…à pergunta “Porquê?”, foi complicado perceber a resposta. Mostrámos o site onde vimos a informação. Perguntámos onde havia “cheap room” e lá nos enviaram para o Hotel Kyal Pyan onde o quarto sem ar condicionado é $25.
Nada de extraordinário, simples e com o staff a saber o básico de inglês. Os estrangeiros ficavam todos no mesmo piso, no 5ºandar sem elevador. Apesar de já passar bastante da hora do almoço, o quarto ainda nem estava arrumado o que faz notar que a presença de turistas é esporádica. A nossa vista do quarto era incrível, mesmo para a Thein Daw Gyi Pagoda.
Enquanto aguardávamos pelo quarto arrumado, decidimos procurar algo para comer. Encontrámos a nossa refeição mais barata de toda a viagem. Noodles cozinhados de um modo diferente e não fried como de costume, com galinha e detalhes crocantes. Custou apenas 500k que na realidade são 0,35€. Dividimos como de costume uma vez que as doses são grandes mas, neste caso teríamos comido bem um prato cada uma. Este local, não consegui perceber o nome mas fica mesmo do lado esquerdo se estiverem a sair do YYA Cafe & Bakery que toda a gente sabe onde é. O YYA tem uma enorme variedade de bolos, batidos e gelados para adoçar a viagem. Na Birmânia ainda não há muitos locais gastronómicos dedicados a ocidentais e ainda bem porque retiraria metade do seu estado virgem e verdadeiro que adoro. Este café apareceu no nosso final de viagem e foi bom para comer algo que sabemos exactamente o que é. Experimentámos um gelado num dia e um batido noutro.
Uma das nossas preocupações quando aqui chegámos foi logo entender como poderíamos ir às ilhas. Tínhamos a grande vontade de ver o estilo de vida dos salone, moken ou sea gipsies e também ver natureza no seu estado mais puro. Perguntámos logo no hotel onde poderíamos ter mais informações e indicaram-nos duas agências de viagens. Normalmente não adoro recorrer a agências mas por saber que neste caso seria complicado de outro modo, teve de ser. Na verdade até pesquisámos muito e só nos aparecia pequenos cruzeiros caríssimos de cerca de $1000 e tal dólares e que era preciso marcar com duas semanas de antecedência para obter permissão.
Myeik tem muitas ilhas e pescadores irão abordar-vos a dizer que vos levam às ilhas mas a verdade é que só conseguem levar-vos às mais próximas que não são de areia branca ou água cristalina. A areia aqui é o genero de uma lama e não vão querer mergulhar. Se o desejo for passear apenas pela ilha, poderá ser uma boa opção fazer um deal com um pescador da zona. No entanto, pelo que entendemos deverão ir ao departamento de imigração para vos darem autorização.
Entrámos primeiro na Life Seeing Tours no Grand Hotel Jade onde nos explicaram que desde este ano já é possível aos estrangeiros fazer one day trip às ilhas. Há viagens destinadas a quem já faz snorkelling com regularidade, para quem o hobbie é ser birdwatcher ou mesmo para quem só quer passar um dia na praia. O preço infelizmente não é muito apelativo. O mais baixo era $110 e era necessário um mínimo de 4 pessoas para garantir este valor. O rapaz que nos atendeu na agência era europeu e sugeriu-nos que fossemos “socializar” para arranjar amigos para completar o barco. Não era bem o valor que tínhamos em mente mas como poupámos bastante a viagem toda, achámos que era possível. Temos sempre de decidir com um dia de antecedência da viagem para dar todos os dados para que a agência faça o pedido ao governo de admissão às ilhas. Muito burocrático ainda mas parece que é um avanço brutal ao que acontecia no ano passado.
De qualquer modo fomos à outra agência, a Sakura Travels & Tours onde a comunicação foi difícil e a senhora estava mais interessada em contar montes de notas do que em nos vender viagens. Aqui já seria possível pernoitar e fazer um tour no minimo de dois dias mas neste caso o barco custava $600 por dia e normalmente só o faziam com 10 pessoas.
Arranjar ou sequer ver turistas em Myeik é difícil. Convencer alguém a fazer uma viagem com estes preços…foi impossível. Por um lado ficámos tristes por não poder ir e acreditem que tentámos muito! Andámos a abordar todos os turistas que víamos. Socializar ao máximo. Por outro lado poupámos algum dinheiro e ficámos com vontade de voltar um dia quando as permissões forem diferentes.
Uma boa alternativa para ver coisas diferentes em Myeik é ir no ferry da manhã para Kings Island e passear por lá.
Depois da nossa correria entre agências, angariação de informação e tomadas de decisão do dia seguinte, ainda houve tempo para passear pelo bairro islâmico e ver o pôr do sol perto da doca. Perto da ponte, já na doca dos pescadores, começou a chover torrencialmente e abrigámo-nos a beber um chá mesmo na entrada para o porto. A senhora que nos recebeu estava tão surpreendida de nos ver que deu para entender que provavelmente éramos as primeiras turistas a parar por ali. Ofereceram-nos comida e tudo. O local era realmente muito simples e frequentado por pescadores. Foi impossível saber o nome do local mas deixo aqui as coordenadas.
A maior surpresa de Myeik foi sem dúvida a gastronomia. Aqui comemos os melhores noodles da viagem. Noodles de arroz com camarões, lulas, lentilhas crocantes, vegetais e acompanhada com rebentos de soja e molho de lima. O picante estava no ponto. Maravilhoso. Fica do lado esquerdo do nosso hotel, no outro lado da estrada.
No dia seguinte ao almoço fomos ao Dawei Su Soy Market onde comemos spring rools e coconut pancakes. Uma grande surpresa e mais uma vez éramos as únicas turistas por lá. O preço foi absurdamente barato para todas as coisas que provámos. Pagámos 1500k. Fomos por indicação do rapaz europeu que mora ali há muitos anos e trabalha na agência do Grand Hotel Jade. Fica muito perto do nosso hotel, numa rua paralela.
Infelizmente também há coisas menos boas. Não existe ainda muita consciencialização sobre o lixo nesta região. Uma baía que poderia ser cenário de postal está cheia de lixo e poluição. Acredito que o turismo vai ter um boom enorme e que esta situação se inverta. Esperemos é que esse boom de turismo seja controlado para que a Birmânia não se transforme numa nova Tailândia porque a pureza das pessoas é o que faz com que este sítio seja tão especial.